quinta-feira, 3 de junho de 2010

Policarpo Quaresma, um encontro de gênios



Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil



Uma, de muitas, cenas antológicas de "Policarpo Quaresma"


A boa notícia vinda do CPT, que ocupa o Teatro Sesc-Anchieta com Policarpo Quaresma, com texto de Antunes Filho baseado no romance Triste Fim de Policarpo Quaresma do, também genial (mas, injustiçado), escritor Lima Barreto, vai ganhar mais algumas semanas naquela sala, graças ao sucesso de público, até o fim de julho.

Policarpo Quaresma é mais uma prova irrefutável da ebulição criativa que agita nosso mais completo, lúcido e coerente encenador Antunes Filho, senhor absoluto da caixa preta que ele sempre povoou de movimentos, luzes, cores e sons, em montagens antológicas, em seus mais de 50 anos de uma carreira sem hiatos.



"Policarpo Quaresma" é a nova pérola da coleção de obras-primas de Antunes Filho.

Porque, ao contrário do que alguns críticos (as) gostam de afirmar levianamente, ignorantes do currículo ao vivo de Antunes, certamente na puberdade quando, por exemplo, São Paulo, depois o Brasil e, por fim, o mundo, assistiu Macunaima, na década de 70 do século passado, o mestre jamais deixou de surpreender, pelo simples fato de jamais deixar-se acomodar em fórmulas por ele mesmo criadas (e recriadas) incansavelmente.

LIMA BARRETO, DE TALENTO RECONHECIDO POSTUMAMENTE

Ao sabermos da árdua batalha do pobre e negro Lima Barreto, com talento talhado por Deus para a Literatura, não fica difícil imaginar a angústia que lhe ia pelo peito por toda a sua curta e atribulada vida, marcada por tragédias familiares e pelo vicio da bebida.

Aquele preconceituoso e medíocre Rio de Janeiro da sua época, não o impediu, porém, de exercer com coragem seu caráter reivindicatório, defendendo em suas obras a solidez moral dos desvalidos em inglória batalha contra o cinismo dos poderosos de plantão, lá como agora.

Com traços autobiográficos do escritor, a jornada patriótica de Policarpo Quaresma teve em Antunes Filho, nesta pungente visão teatral (Policarpo Quaresma), um arguto adaptador da prosa descritiva e essencialmente literária do formidável Lima Barreto.

Todo aquele povo, em todas as esferas sociais, políticas e militares, minuciosamente analisado e recriado pelo romancista com sua singular visão humanista, teve, por sua vez, no teatro, em Rosangela Ribeiro, uma figurinista estonteante e delirante, às vezes, em outras ladeando ou se sobrepondo mesmo ao trotear expressionista de Antunes, esculpindo personalidades num piscar de olhos, como nos quadros dos grandes pintores.

Exercendo o vertiginoso jogo lúdico de trocas de figurinos e de “personas”, o numeroso elenco tem grandes momentos de “flashes cenográficos” e nas irrepreensíveis marcações coletivas, onde o toque de gênio de Antunes se aprofunda a cada peça.

O rendimento do elenco alça todos ao nível da excepcionalidade. O que não nos impede de ressaltar a concepção de Lee Thalor para o protagonista Quaresma, dando-lhe tocante verossimilhança em sua crença tão ingênua quanto intensa – jamais caricatural – de pungente determinismo patriótico.

A grata surpresa corre por conta das luminosas aparições de Geraldo Mário, um dos mais constantes colaboradores de Antunes Filho, como a velha escrava desmemoriada e, depois, como o vivido preto velho Anastácio, paciente auxiliar de Quaresma na fase agrícola.

Antunes Filho está muito bem acompanhado por todo aquele batalhão de escultores da perfeição refletida na montagem: o CPT do Antunes Filho mais uma vez disse a que veio!

Policarpo Quaresma /Teatro Sesc-Anchieta/ Rua Dr. Vila Nova, 245 /telefone 3234-3000/ 6ª. e sábado 2l h –domingo l9h/ R$ 20,00 (inteira) / 12 anos /100 minutos/ até fim de julho.

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