quarta-feira, 31 de março de 2010

Estado de S. Paulo: Antunes encena o 'Policarpo Quaresma' de Lima Barreto



Estado de S. Paulo, 25 de Março de 2010


Depóis de adaptar Nelson Rodrigues e Lamartine Babo, diretor se volta para clássico sobre raízes da república


Primeiro foi Nelson Rodrigues. Depois, Lamartine Babo. Agora, Antunes Filho encerra sua trilogia em homenagem ao Rio com Policarpo Quaresma, baseado no clássico ‘Triste Fim de Policarpo Quaresma’, de Lima Barreto. O diretor conta que a ideia de encenar esta fábula sobre as raízes da república nasceu de um desejo de dar ao livro a importância que ele merece.

Foto: Emídio Luisi

Para Antunes, Policarpo é um personagem fundamental da literatura brasileira. Mas a obra de Barreto é essencialmente descritiva e são os diálogos a matéria-prima do teatro. Como isso foi resolvido? "Com um trabalho insano", diz Antunes. O mergulho na nostalgia de um Rio dos anos 60 e 70 parece ter feito bem a Antunes, que se mostra ávido por novas criações. Ele diz que está cansado do debate sobre o papel do teatro contemporâneo. "Temos que discutir essas coisas todas, mas, mais do que nunca, o que me interessa é o humano."
A adaptação de ‘O Triste Fim de Policarpo Quaresma’, que estreia nesta sexta, 26, é oportuna. O crítico literário Ivan Teixeira classifica a obra como "uma espécie de oração principal em uma grande frase de protesto contra a sociedade de seu tempo". Tal como faz Antunes Filho. O diretor busca um teatro afinado com o presente. Ainda que considere que seu tempo (o dele e o seu) seja mal-interpretado por muitos contemporâneos.

Policarpo Quaresma - ONDE: Sesc Consolação. Teatro (320 lug.). R. Dr. Vila Nova, 245, 3234-3000. QUANDO: 6ª e sáb., 21h; dom., 19h. QUANTO: R$ 20.


sexta-feira, 26 de março de 2010

"Policarpo Quaresma" na Folha de S. Paulo


Antunes Filho estreia em SP adaptação de Lima Barreto

MARIA EUGÊNIA DE MENEZES da Folha de S. Paulo
Filipe Redondo/Folha Imagem

Um turbilhão verde e amarelo arrasta Antunes Filho, 80. O diretor, que já recriou da Inglaterra vitoriana de Shakespeare à Noruega cinzenta de Ibsen, ultimamente não quer saber de nada que não seja genuinamente brasileiro. Prova disso é sua empreitada mais recente, a encenação de "Policarpo Quaresma", que estreia para convidados hoje, no Sesc Consolação.
Desde que encerrou seu ciclo de tragédias gregas, em 2005, Antunes dedica-se com afinco a pôr o país em relevo. Passou pela literatura barroca de Ariano Suassuna, voltou às tragédias de Nelson Rodrigues e agora desemboca no herói ingênuo de Lima Barreto (1881-1922).
"É um personagem que tem a estatura de Macunaíma e Riobaldo", diz ele, referindo-se ao protagonista do clássico "Triste Fim de Policarpo Quaresma".
Saudado pela crítica literária como uma espécie de Dom Quixote nacional, Quaresma é um homem pacato tomado por arroubos nacionalistas. Resolve aprender tupi, pregar mudanças para engrandecer o Brasil, mas termina desencantado.
Apenas para adaptar o livro a uma estrutura teatral, Antunes gastou seis meses. "Foi uma trabalheira danada. Transformei todas as descrições em diálogos e também criei alguns personagens para dar sustentação aos protagonistas", conta.
De resto, a tarefa de encenar a trama --que se passa em três momentos diferentes e será contada em ato único-- consumiu quase dois anos de preparação e ensaios.
Um percurso que foi interrompido, em 2009, por outras duas montagens: "A Falecida Vapt-Vupt" e "Lamartine Babo". Ambientadas no Rio de Janeiro, ambas compõem, ao lado de "Policarpo Quaresma", aquilo que Antunes denominou de trilogia carioca. O próximo trabalho, ele avisa, deve seguir por trilha semelhante e se embrenhar pelo célebre conto de Machado de Assis "O Alienista".
Em cada linha do romance de Lima Barreto, salta como pano de fundo um corrosivo retrato da sociedade carioca do século 20, em que a corrupção contamina a política e espraia-se por todas as relações sociais.
Para transportar isso ao palco, o espetáculo do grupo Macunaíma e do CPT abriu mão do cenário, dispensou os recursos de ambientação em uma determinada época e tratou de estabelecer um diálogo com o Brasil de hoje, conta Lee Thalor, que interpreta o personagem-título da montagem. "A crítica que o Lima Barreto fazia ainda está latente hoje", diz.
Antunes acrescenta outra preocupação: fazer um teatro popular. E, para isso, tratou de deixar de lado pretensas sofisticações e foi beber na fonte da "commedia dell'arte", do teatro de revista e dos irmãos Marx. "Queria fazer um espetáculo aberto, solto e dar de volta tudo aquilo que eu recebi do teatro. Tenho que me ajoelhar para agradecer a meus mestres, Ziembinski, Cacilda Becker. Será que eu vou conseguir?" Antunes promete que vai seguir tentando.


[Matéria publicada na Folha de S. Paulo no dia 26/03/2010]

Lima Barreto: Cenografias

Por Antunes Filho


Por que o CPT, que faz alguns dos seus espetáculos, inclusive agora Policarpo Quaresma, sem cenários, propõe no momento uma exposição com o título “LIMA BARRETO: CENOGRAFIAS”, não se trataria de um contra-senso? Obviamente, sabe-se que o fundo preto (neutro) sem cenário, com a mínima variação nas luzes, valoriza o ator (principal característica do CPT) nas suas atitudes, gestualidades e movimentos, trazendo para si a atenção plena do espectador.
Esta minha tendência vem lá de trás, de criança, do tempo que, felizmente, ainda não existia a televisão. Duas atrações seduziam-me além dos jogos e das brincadeiras: o cinema, nas matinês de quinta feira, as sessões zig-zag aos domingos de manhã e alguns programas de rádio dos quais eu era ouvinte assíduo. Foi a radiofonia, tenho certeza que me atiçou o imaginário. Otavio Gabus Mendes inovador da rádio no Brasil e também cineasta muito me influenciou e me educou na época com seus programas na Record.
Acompanhava tanto suas excelentes críticas cinematográficas que transmitia diariamente na hora do almoço quando chegava da escola, como as radiofonizações dominicais de grandes filmes (ele era fissurado em Orson Welles, Jonh Ford, William Hellman, Frank Capra etc...etc...). A minha cabeça ia para o espaço com as falas e as personagens que os atores interpretavam; lá ia eu esboçando nebulosamente ambientes, cenários dos mais incríveis. Deitava nas sensações dos meus devaneios, dos meus sonhos.
Depois, o teatro moderno, e em especial Kazuo Ohno e algum Bob Wilson, fizeram-me aterrisar através de suas encenações mais fundo no meu inconsciente.
Kazuo Ohno, por exemplo, no primeiro plano, diluía-se na sua dança, criando-me visões fantásticas, projetadas através dele no fundo neutro. Ele desaparecia e eu permanecia na poltrona abismado, estarrecido e maravilhado. Transcendia. Tomava consciência que não era somente a fala, mas também o jogo de corpo, ambos, responsáveis pelos movimentos básicos do sobrevôo. Cenários, painéis, penduricalhos de qualquer ordem interfeririam na ânimo folha branca do expectador.
A exposição “Lima Barreto: Cenografias” é uma tentativa de mostrar o registro destas incursões que fazemos através da nossa neblina interior. Provocar a subjetividade: cada leitor ou expectador cenografar a obra para si mesmo.
Novos artistas cenógrafos foram chamados para cada um a sua maneira, colocar o seu depoimento imagistíco de uma obra que escolhesse do autor. É um duplo empreendimento do curso do CPT que julgo de maior relevância: a amostragem de novos cenógrafos para o mercado com seus sonhos poéticos como também a mais justa homenagem a este grande escritor social Lima Barreto (que quase sempre é injustamente colocado à margem) Então, duas exposições em uma só?
Quero acrescentar que os estimulei a tentarem nas suas idealizações aproximarem a cenografia o mais que possível das outras irmãs das artes plásticas: a pintura e a escultura. Descompartimentar o trabalho possível de vícios da própria linguagem cenográfica. Novos ares. Venha ver uma e veja duas exposições.
[Este texto foi escrito para o catálogo da exposição "Lima Barreto: Cenografias"]

quarta-feira, 24 de março de 2010

Epígrafe à direção de POLICARPO QUARESMA

Podemos, se quisermos, classificar as alienações em toleráveis e intoleráveis: há momentos na história em que elas se entrecruzam provocando tragédias irreparáveis por (ou apesar de) terem sido baseadas em atos risíveis de opereta de segunda categoria, onde as bravuras não foram senão bravatas.

Antunes Filho

terça-feira, 23 de março de 2010

Os cenários de Lima Barreto



Por Rogério Guarapiran, integrante do círculo de dramaturgia do CPT



Lima Barreto (1881-1922) foi dos escritores romancistas mais importantes do Brasil pós Machado de Assis e compartilha com este a ascendência humilde e a condição de mulato que implicava grandes preconceitos de uma sociedade distintiva da recente Abolição da escravatura. As semelhanças dos dois literatos acabam aí e Lima segue seu curso tortuoso e impetuoso. De uma natureza confessadamente contestadora não consegue se aliar com planos de resignação que a escalada social e o reconhecimento dos pendores literários lhe exigem. Viveu seu mal-estar na sociedade e acumulou uma série de infortúnios e humilhações. Apadrinhado para poder estudar teve que interromper seu curso acadêmico, instala-se como servidor público e jornalista para sustentar as mazelas de sua família com seu pai louco e inválido. O vício da bebida e os desabafos em forma de romance lhe apareceram como natural saída para seu espírito e as internações no hospício foram a força que tentaram o recolocar na “sociedade normal”.
As múltiplas visões sobre a obra e vida do escritor é um resultado orgânico quando se pensa os variados e desnivelados ambientes da cidade do Rio de Janeiro que ele percorreu observando o máximo de realidade social. A cidade cotidiana é palco de contradições e guerra. Sua obra abrange: “Interiores domésticos burgueses e populares, estabelecimentos de grande e pequeno comércio, cassinos e bancas de jogo do bicho, festas e cerimônias burguesas, cosmopolitas, cívicas e populares, bares, malocas, bordéis, alcovas, pensões baratas, hotéis, frèges, cortiços, favelas, prisões, hospícios, redações, livrarias, confeitarias, interior de navios, trens, automóveis e bondes, zonas rurais, ruas, praias, jardins, teatros, cinemas, estações ferroviárias, pontos de bonde, cais, portos, escolas, academias, clubes, ligas cívicas, casernas, cabarets, cemitérios, circos, teatro de marionete, tribunais e oficinas” (Sevcenko).
Lima sabia embutir a crítica, seu ponto de vista, sem fantasiar seus cenários para agradar o público afeito a amenidades e disfarces. Dos lugares que marcou sua percepção para sempre, as descrições são veementes e outros lugares imaginários são todos derivações do universo cosmopolita que o Rio de Janeiro proporcionava, do concreto que se impunha aviltando as florestas ainda imponentes, compondo um cenário moderno e selvagem envolto de fauna humana rica e contrastante.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Algumas impressões de LAMARTINE BABO



Nas últimas semanas, Maria Adelaide Amaral, Juca de Oliveira, Eduardo Tolentino, Bia Seidel e Zé Henrique de Paula assistiram LAMARTINE BABO. Algumas impressões que registramos de nossos espectadores:
"O espetáculo enche a alma e os ouvidos da gente." (Maria Adelaide Amaral)

“É uma tela de Volpi”. (Eduardo Tolentino)
"Divertido e absolutamente comovente" (Juca de Oliveira)
"Ficaria mais três horas assitindo. Quero colocá-lo num potinho e levar para casa" (Bia Seidel)

"Singelo e poético.Uma pérola." (Zé Henrique de Paula)