sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O CPT do SESC

Em 1982, face à seriedade da proposta do Grupo de Teatro Macunaíma, sob o comando de Antunes Filho, o SESCSP criou o CPT – Centro de Pesquisa Teatral, promovendo a continuidade tanto das pesquisas estéticas do Grupo Macunaíma quanto das suas atividades no campo da formação de atores, de técnicos e de outros criadores cênicos.
Centenas de jovens atores estagiaram no CPT desde então, aprendendo novas técnicas interpretativas, contribuindo para a pesquisa de meios que, sistematizados, resultam agora em um novo método para o ator. Também cenografia, figurino, iluminação e design sonoro têm no CPT núcleos, que unem a pesquisa de meios e de materiais à formação de artistas e técnicos dessas áreas. A dramaturgia é, igualmente, objeto de pesquisas e estudos no CPT. O repertório do Grupo de Teatro Macunaíma (que mantém sua autonomia de empresa), constituído a partir de 1982, foi totalmente elaborado a partir das pesquisas efetivadas no CPT do SESC.
Obras de Nelson Rodrigues (Eterno Retorno; Paraíso, Zona Norte ou Nelson 2 Rodrigues), de Jorge Andrade (Vereda da Salvação) e de William Shakespeare (Romeu e Julieta; Macbeth - Trono de Sangue) compõem esse repertório, que inclui a adaptação de obras literárias (A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; Gilgamesh, baseado no poema sumério) ou de fábulas universais (Nova Velha Estória, baseada no conto do Chapeuzinho Vermelho; Drácula e Outros Vampiros, inspirado nas histórias em quadrinhos e na literatura de terror) e de episódios históricos (Xica da Silva). Depois de sistematizado o método para o ator, o repertório recebeu importantes acréscimos: três tragédias gregas, duas de Eurípedes – Fragmentos Troianos (adaptação de As Troianas) e Medeia –, uma de Sófocles – Antígona. Enriqueceu-se também com o nome do jovem dramaturgo Paulo Santoro, autor de Canto para Gregório, e com um dos nomes mais aplaudidos, reverenciados e consagrados da literatura brasileira: Ariano Suassuna com A Pedra do Reino.
Os processos criativos desenvolvidos no CPT, abrangendo os diferentes aspectos da manifestação cênica, provocam a desconstrução de velhos códigos e sua posterior transformação em novos códigos. A pesquisa se move não visando a constituição de novas formas, mas de meios que possibilitem o surgimento de novas formas. Os instrumentos teóricos da linguagem são colhidos em áreas influentes do pensamento contemporâneo, como a nova física (particularizando a mecânica quântica); a psicologia profunda; correntes filosóficas orientais (taoísmo, hinduísmo). Obras-primas do cinema, o trabalho de grandes intérpretes, imagens cênicas dos mais importantes encenadores contemporâneos são metodicamente estudados pelos atores, assim como artes plásticas e literatura.
Depois de diferentes etapas, evidenciando de uma montagem para outra a evolução da pesquisa, o CPT realizou demonstração pública do método sistematizado, em 1998, com as jornadas de Prêt-à-Porter, nas quais a dramaturgia elaborada pelos intérpretes compõe o quadro dos procedimentos e técnicas desenvolvidos pelo CPT e Grupo de Teatro Macunaíma na busca de novos horizontes do teatro. Desde então, até hoje, realizam-se as jornadas de Prêt-à-Porter, aos sábados, na sala de ensaio, com espetáculos formados por três peças curtas, criadas pelos atores no processo de trabalho.
A cada ano substituem-se as três peças, mantendo o mesmo formato. A continuidade da pesquisa por mais de duas décadas, de um trabalho em permanente transformação; as técnicas descobertas e aprimoradas; e o fato de funcionar como escola de teatro, são fatores que tornam o CPT – Centro de Pesquisa Teatral do SESC – o principal núcleo de investigação teatral da América Latina na atualidade. Fato que a Casa das Américas, de Cuba, reconheceu, premiando Antunes Filho, CPT e Grupo de Teatro Macunaíma com o Gallo de Habana (2005) – honraria só concedida a personalidades, instituições ou grupos artísticos que tenham contribuído com relevância para a evolução estética do teatro na América Latina.

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