sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Antunes Filho

Nascido em São Paulo, no bairro da Bela Vista, o Bexiga, a 12 de Dezembro de 1929, Antunes Filho destacou-se em meio à primeira geração dos encenadores modernos do Brasil. Dirigindo grandes nomes da cena nacional, consolidou seu prestígio com espetáculos marcantes como O Diário de Anne Frank, de Francis Goodrich e Albert Hackett (1958), Plantão 21, de Sidney Kingsley (1959), Yerma, de García Lorca (1962), Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (1964), A Megera Domada, de Shakespeare (1965), A Cozinha, de Arnold Wesker (1968), Peer Gynt, de Ibsen (1971), Bonitinha, Mas Ordinária, de Nelson Rodrigues (1973). Alcançou projeção internacional a partir de 1978 com a adaptação teatral da rapsódia literária de Mário de Andrade Macunaíma, espetáculo apresentado em cerca de 20 países, sempre com irrestritos elogios da crítica e aplauso do público.
No decorrer do processo de adaptação e criação de Macunaíma, Antunes passou a sistematizar uma série de recursos técnicos para o ator, que havia descoberto ao longo dos seus até então 25 anos de carreira. Eram exercícios de corpo e de voz que, inspirados em escolas antigas (sobretudo no método de Stanislavsky), buscavam adequar técnicas à realidade cultural e ambiental do ator brasileiro.
Através desse sistema criativo passou a trabalhar a montagem de O Eterno Retorno, espetáculo constituído por quatro peças de Nelson Rodrigues. As novas pesquisas e a introdução da psicologia analítica, de Jung, assim como de elementos da filosofia das religiões encontrados em obras de Mircea Eliade, redimensionaram o sistema e criaram a necessidade de novos recursos técnicos.
Desse modo, o Grupo de Teatro Macunaíma (inicialmente chamado Grupo de Arte Pau Brasil) desdobrou-se em companhia teatral e núcleo de estudos e pesquisas teatrais, funcionando no Teatro São Pedro, na Barra Funda. Para lá acorriam centenas de jovens atores sempre que se abriam testes de admissão. E desse modo uma importante escola de teatro começou a se configurar em São Paulo.
Em 1982 o SESC São Paulo, após estudos de uma comissão formada especialmente para avaliar possíveis ações institucionais, visando a estimular a produção teatral, criou o CPT – Centro de Pesquisa Teatral, entregando sua coordenação e direção a Antunes Filho e abrigando como núcleo principal o Grupo de Teatro Macunaíma. A partir daí a pesquisa sobre técnicas de ator e estéticas cênicas se aprofundaram de modo surpreendente. Sempre inquieto, Antunes Filho buscou recursos em todas as áreas de conhecimento – incluindo a nova física, a nova retórica, as idéias filosóficas orientais – para fundamentar e consolidar seu processo criativo.
Com o decisivo apoio do SESC, Antunes Filho conseguiu a sistematização definitiva de um método para o ator, enquanto criava um repertório dos mais expressivos e brilhantes do teatro contemporâneo, assim reconhecido internacionalmente. Todavia, suas investigações estéticas continuam, como continua seu trabalho prospectivo sobre as técnicas de ator já sistematizadas.
Recentemente a TV Cultura exibiu uma retrospectiva dos teleteatros realizados por Antunes Filho naquela emissora, na década de 1970. A programação teve o mérito de lembrar aos mais velhos e demonstrar aos jovens o importante trabalho que Antunes desenvolveu na televisão até o momento em que realizou Macunaíma. Depois viria a se dedicar exclusivamente ao Grupo de Teatro Macunaíma e CPT, mas sua obra televisiva pode ser avaliada agora e revela-se um momento de extraordinária criatividade, como poucas vezes a televisão brasileira viveu. Também no cinema Antunes Filho marcou sua presença, como criador de inquestionável talento, com a direção de Tempo de Espera (1975), obra sobre alienação e racismo.
Entre os inúmeros prêmios recebidos em sua carreira figuram as mais importantes honrarias que destacam o talento do intelectual e artista brasileiro, entre os quais o Prêmio Multicultural Estadão, além de prêmios internacionais, como o concedido pela Associação Internacional de Críticos Teatrais, o prêmio de melhor diretor – Poeta da Cena – do Festival de Montreal e o Gallo de Oro, concedido pela Casa das Américas, de Cuba.

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