Lima Barreto atual e urgente
Nicolau Sevcenko
ABSURDISMO
A montagem de Antunes desse autêntico documento fundador da República é estarrecedora. Ele concentra no palco como que um sumário das artes cênicas do século 20. Desde as origens do teatro e do cinema modernos, do “Ubu Rei”, de Alfred Jarry, ao Carlitos de Charles Chaplin, passando por Pirandello, Samuel Beckett, Peter Brook e Leni Riefenstahl (em revisão paródica), desfila situações absurdistas em que a promessa da modernidade se configura como a mais atualizada versão do velho inferno. O desejo obstinado de acreditar num ideal retórico e farsesco, por mais que a realidade lhe imponha decepções e desencantos, por mais que seus líderes se revelem deslavados crápulas, o arrasta para um fim tão trágico como inevitável.
O que mais encanta e hipnotiza é que Antunes é um mestre do coro. Há diretores que se exprimem sobretudo através da força dos personagens. Outros introduzem sua visão mais pessoal pelo encaminhamento da trama dramática. Antunes se comunica predominantemente pela energia flamejante do coro, suas montagens são literalmente coreográficas. Essa é a fonte mais original do teatro. Na encenação grega, os protagonistas são cruciais para desencadear o enredo dramático, mas é o coro que realiza o mistério da transubstanciação dionisíaca. É assimilada no coletivo que se dá a ressurreição de Dioniso em cena, não na circunstância particular vivida pelos atores.
Na montagem do “Policarpo Quaresma”, Antunes realizou esse ritual com uma eficácia sublime. O coro, ora travestido em camisolões de loucos do hospício, ora fardado como recrutas do Exército, ora como fiéis devotos do grande líder carismático, ora como militantes agitando bandeiras cegamente, como no “Triunfo da Vontade”, de tão trágica memória, fornecem o retrato mais cru e realista que se possa imaginar da República brasileira, desde a fundação até esse ano da graça de 2010.
A certa altura as formigas surgem como o bode expiatório, o inimigo público que deve ser destruído sob as botas para desentravar a prosperidade geral. O coro é tomado de um transe unânime e agressivo, pisando e gritando compulsivamente, como num culto de exorcismo. Policarpo conclui a cena com um sapateado mortífero, acompanhando os acordes do Hino à República. Nunca Lima Barreto foi tão atual. Nunca esteve tão vivo. Nunca foi tão urgente.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
LAMARTINE BABO em outros palcos
Viajar virou rotina: o público e o elenco gostaram. Nos próximos meses, a peça "Lamartine Babo" continuará se apresentando em outros palcos, além de sua apresentação semanal todas as quintas-feiras, às 21h, no SESC Consolação. Confira abaixo as datas das próximas apresentações fora do SESC. E fique atento, no final de Setembro divulgaremos mais datas!
LAMARTINE BABO em outras localidades de São Paulo, para quem mora longe do SESC Consolação:
- Espaço dos Coletores de Cultura - Paidéia - 30 e 31 de Agosto, às 2oh / R. Darwin, 153
- CEU Casablanca - 02 de Setembro, às 20h/ R. João Damasceno, 85 – Jd. Casa Blanca / Jd. São Luiz
LAMARTINE BABO no interior de São Paulo:
- São José dos Campos (Festivale) - 09 de Setembro, às 21h, no Teatro Municipal / R. Rubião Júnior, 84
- São Carlos - 21 de Setembro, às 21h, no SESC / Av. Comendador Alfredo Maffei, 700
sexta-feira, 16 de julho de 2010
A Semana de Lamartine Babo
A peça Lamartine Babo, em cartaz desde novembro de 2009, ganhará destaque na próxima semana. Serão cinco apresentações do musical dramático, que homenageia o "rei das marchinhas" com texto de Antunes Filho e direção de Emerson Danesi.
Lamartine Babo em São José do Rio Preto (FIT-Festival Internacional de Teatro)
Dias 20 (ter) e 21 (qua) às 19h e 21h30
SESC Teatro
Lamartine Babo em São Paulo
Dia 22 (qui), e todas as quintas-feiras, às 21h
Espaço CPT/SESC Anchieta (Consolação)
Lamartine Babo em São José do Rio Preto (FIT-Festival Internacional de Teatro)
Dias 20 (ter) e 21 (qua) às 19h e 21h30
SESC Teatro
Lamartine Babo em São Paulo
Dia 22 (qui), e todas as quintas-feiras, às 21h
Espaço CPT/SESC Anchieta (Consolação)
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Lamartine Babo
terça-feira, 13 de julho de 2010
CPT indica: ALECHINSKY
Artes Plásticas >>> O CPT indica a exposição ALECHINSKY - 40 anos de colaboração com Peter Bramsen. Alechinsky fez parte do famoso grupo CoBrA, importante desde os anos 40-50, com artistas oriundos de Copenhagen, Bruxelas e Amsterdan.
Serviço
Instituto Tomie Ohtake
Endereço: R. dos Coropés, 88
Tel: (11) 2245-1900
Quando: Terça à Domingo, das 11h às 20h. Acontece também nos feriados. De 16/07 à 07/09. Grátis.
Serviço
Instituto Tomie Ohtake
Endereço: R. dos Coropés, 88
Tel: (11) 2245-1900
Quando: Terça à Domingo, das 11h às 20h. Acontece também nos feriados. De 16/07 à 07/09. Grátis.
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quinta-feira, 8 de julho de 2010
CPT no Cena de Teatro 2010
O CPT participa do Cena de Teatro 2010 - Festival de Teatro de São Caetano do Sul, que começou hoje (8) e se estende até o dia 18 de julho.
Amanhã, 9 de julho, será exibido o documentário "O teatro segundo Antunes Filho", às 20h, no Teatro Timochenco Wehbi. No mesmo dia, o ator Emerson Danesi ministra a oficina "O Corpo do Ator" das 14 às 17h. No sábado (10), o Prêt-à-Porter Coletânea 2 se apresenta às 20h no Teatro Timochenco Wehbi.
Confira a programação completa do Festival: www.fascs.com.br/maratona/imp_programacao.asp
Amanhã, 9 de julho, será exibido o documentário "O teatro segundo Antunes Filho", às 20h, no Teatro Timochenco Wehbi. No mesmo dia, o ator Emerson Danesi ministra a oficina "O Corpo do Ator" das 14 às 17h. No sábado (10), o Prêt-à-Porter Coletânea 2 se apresenta às 20h no Teatro Timochenco Wehbi.
Confira a programação completa do Festival: www.fascs.com.br/maratona/imp_programacao.asp
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
Campanha pelo Cinema Belas Artes
O CPT apoia e torce pela camapanha "Patrocine o Cinema Belas Artes". Conheça a iniciativa e participe:
http://patrocineocinemabelasartes.blogspot.com
http://patrocineocinemabelasartes.blogspot.com
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Policarpo Quaresma, do CPT
Eduardo Araújo, do blog revide
01.06.2010
A grata surpresa de ver em cena diversos atores, em tempos de tantos monólogos. É que quero ver o balé, a contradança, a movimentação ativa e pulsação da vida posta em cena, do palco e seu impacto, o contracenar. Os ternos negros dos homens, as claras roupas das damas, e já estamos num novo século. Tudo é limpo no tablado do Antunes, tudo é dado por objetos mínimos, que entram e saem, por figurinos precisos, e pelos corpos.
Eu queria era saber não só o nome do Lee Thalor, mas dos demais, pois se o trabalho dele é puro primor, o desempenho de tantos outros atores mereciam crédito. Tinham que pôr no jornal os rostos, com legenda e creditar: a voz do cantor de modinha, o sapateado coletivo, o tango e seus rodopios, a preta-velha meio-senil e de jacosas canções, a dicção incrivelmente impostada do especialista e dos políticos, aquele outro ator cujo corpo desliza sinuoso, todo pura ironia física. Mas a gente vai entender que a peça é esse todo coeso, articulado e belo. Eu vejo ali a mão do rigor do Antunes, um outro tipo de teatro político mas sem bandeira, posto que alinhava uma peça onde o Brasil-que-agora-vai (da República recém-fundada) pisca para com desconfiança para o Brasil-que-agora-acha-que-está-indo (de hoje). Antunes faz dançar nossas ingênuas crenças, utopias, o bonito sonho lesado de Policarpo na ironia difícil de Lima Barreto.
No entanto, a batuta de Antunes não pesa, não há no ator as cordinhas que vejo no trabalho de diversos diretores; pois em Policarpo cada ator mostra-se presente inteiro, dando-se ao melhor entendimento do ser que encena. Cada um está todo, na composição, sem despencar do papel, sem afrouxar a representação. Há rigor mas não vejo rigidez. O corpo flui com naturalidade, como se não houvesse marcas, como se não fora meticulosa a coreografia dos passos, no palco limpo, afora seus confetes, nuvens de fumaça (um lindo efeito cênico) feito com talco, no ar.
Em Policarpo Quaresma tudo é exato desde a primeira sílaba. E eu confesso o impacto que tive ao ouvir a dicção daquela atriz que faz a noiva que enlouquece, que sem ser linda, fica a mais linda mocinha destinada ao melancólico fracasso. A voz dela, de abrir espaços, vaguidões, de dar a dimensão de um tempo que não há mais. E há ali atores que souberam trazer na voz um modo de ser que não há mais, uma nostalgia que aparta o tempo da peça do nosso tempo. Estamos diante de uma representação, e por isso afrouxam-se as coordenadas da trama do romance de Lima Barreto, cuja adaptação permite-se infiel (até no desfecho), mas que mantém intacto as grandes passagens fulgurantes, simbólicas, como do ataque das formigas.
Adaptando uma obra em que humor, sarcasmo e melancolia se somam para desvendar um Brasil que se inaugura com reconfiguração de forças já viciadas, Antunes opta por compor quase um musical, mas não sei que ponto possa (como li) confundir-se com chanchada, onde, até onde alcanço, o enredo diluía-se ante a música e a mise en scene. Em Policarpo, o tom nunca é absolutamente caótico, se há cortejos, bailes, noivados, batalhas, corsos de loucos, sapateados, tangos, tangolomangos, se organizam com beleza e nunca se perdem sem significação para o conjunto (e o que se conta/encena). Há, aliás, momentos de bela quietude e lirismo. Policarpo Quaresma é uma peça que faz também por esquetes, cenas dinâmicas que se desarmam em passagens poéticas que remetem ao Amacord de Fellini, até pela trilha da peça à Nino Rota. É um pulsar de situações cômicas, patéticas, líricas, surreais, alegóricas. O compromisso nenhum com resconstituição de época, de panfleto, embora se demore - talvez em demasia - no impacto da violência da guerra, na estupidez do poder, na explicitação do desencanto (que sim, está no livro), de um Quaresma que toma consciência de seu idealismo sincero frente ao nacionalismo oportunista e hipócrita dos políticos, o ufanismo cego ao qual a massa adere.
Bonito demais o encadear de hinos do Brasil, tudo evocando crenças desfeitas, uma ingenuidade perdida, uma ironia grande com o presente em que se descrê do coletivo, da idéia de nação só recuperada em épocas de Copa, com o futebol. Mas não é disso que trata a peça, da volubilidade de nós brasileiros em relação ao país. Do fracasso das crenças nas virtudes da terra, na validade das ações, no puramente nacional (que não há); crenças que desabam, no amor, na pátria, no olhar ingênuo em meio ao mare magnum das transformações.
Partindo da alegria rumo ao desencanto; do delírio de felicidade à tomada de consciência; da eloquência inicial à voz que se silencia no ruir das esperanças (no grito da noiva desamada / no Quaresma lúcido e calado à força), a montagem do CPT não nos reserva um desfecho moral, um ensinamento apreensível. Não denuncia, não levanta bandeira - talvez sim, contra a politicagem corrupta e oportunista. Mas é uma peça sem vitória, sem solução fácil, pois ainda que Quaresma termine um Quixote lúcido, suas batalhas perdidas nos enterram na desilusão do quão pouco somos diante de um país cujo destino não está mesmo na mão de nós cidadãos.
Só o fato de existir um CPT é que nos lembra que sim, o Brasil é por demais interessante. Para além da nossa impotência e o desmando dos poderosos, há sempre algo que se articula, brilha e nos revela com o uma nação com artistas talentosíssimos, que com originalidade revelam/desvelam um tanto mais o que somos.
Com gestos que parecem mágicos, cores sutis, objetos mínimos, os atores do CPT fizeram da ida ao teatro uma arrebatadora forma de felicidade.
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